Cruzamento
industrial: terminação com qualidade de carcaça
A produção de grãos deslocará 4 milhões
de hectares de pastagens em regiões estratégicas até
2012 e a pecuária, para manter-se competitiva, terá de
modernizar-se e obter rentabilidades iguais ou superiores às
da agricultura.
Algumas
propriedades, que já adotam hoje as melhores tecnologias disponíveis,
e contam com rigoroso controle de custos, estão atingindo rentabilidades
elevadas. Propriedades médias e até pequenas, quando especializadas
e bem ajustadas ao ciclo de produção a que se dedicam
(cria, recria e engorda, ciclo completo, etc.) têm obtido resultados
muito bons, estimulando o investimento por parte de seus proprietários
na expansão da atividade.
Apresentam-se
no Quadro 1 os resultados financeiros realizados por duas propriedades,
acompanhadas pela Plano Consultoria, no exercício de 2003. O
método de cálculo do custo de produção do
peso vivo/arroba usado é o do custo médio ponderado.
É
interessante notar que a Fazenda 2, com 397 hectares, registrou produtividade
104% superior em kg de peso vivo/ha, em comparação com
a Fazenda 1, apesar da grande semelhança dos modelos de produção,
com uso intensivo de pastagens e confinamento de engorda no inverno.
Quadro
1 – Resultados financeiros realizados (ex-post) de duas propriedades
em regime de caixa
PRODUÇÃO E RENTABILIDADE |
FAZENDA 1 |
FAZENDA 2 |
Área útil da propriedade (ha) |
3.413 |
397 |
Área de atuação |
Recria e engorda |
Recria e engorda |
Localização |
Estado de Goiás |
Estado de São Paulo |
Produção anual de peso vivo kg |
1.259.786 |
299.621 |
Produção anual em @ |
41.993 |
9.987 |
Produtividade de peso vivo/ha |
369 |
755 |
Custo de produção na Fazenda R$/@ |
41,05 |
29,46 |
Custo de compra R$/@ |
56,76 |
68,18 |
Custo Final de Produção R$/@ |
46,93 |
41,22 |
Lucro Líquido R$/ha |
336,05 |
405,75 |
CUSTOS APROPRIADOS |
R$ /@ |
% |
R$ /@ |
% |
Alimentação |
15,286 |
37,23 |
7,277 |
24,70 |
Minerais |
3,209 |
7,82 |
1,567 |
5,32 |
Manutenção de máquinas |
1,417 |
3,45 |
0,657 |
2,23 |
Combustíveis lubrificantes |
2,473 |
6,02 |
2,353 |
7,99 |
Mão-de-obra |
2,362 |
5,75 |
3,717 |
12,62 |
Medicamentos e vacinas |
1,506 |
3,67 |
0,634 |
2,15 |
Adubação de pastagens |
4,127 |
10,05 |
3,887 |
13,20 |
Manutenção / Aluguel de pastos |
0,062 |
0,15 |
2,315 |
7,86 |
Manutenção cercas e instalações |
0,184 |
0,45 |
0,487 |
1,65 |
Serviços de terceiros |
0,976 |
2,38 |
1,022 |
3,47 |
Transporte de gado |
0,561 |
1,37 |
0,224 |
0,76 |
Impostos e demais custos |
8,887 |
21,66 |
5,320 |
18,05 |
TOTAL |
41,05 |
100,00 |
29,46 |
100,00 |
(Fonte:
Plano Consultoria)
As
estratégias de comercialização deverão modificar
o perfil do uso das técnicas de produção para que
a pecuária consiga ser competitiva e buscar melhor remuneração,
de acordo com a qualidade dos animais entregues. Os sistemas das fazendas
tanto de São Paulo quanto de Goiás adotam a intensificação
das pastagens e o confinamento para engorda no inverno.
O
cruzamento industrial, técnica que praticamente não implica
elevação de custo e aumenta de modo significativo a produção
de carne por individuo e por ha, é adotada nas duas propriedades,
tendo a matriz nelore como base do rebanho de fêmeas e a reprodução
feita com touros compostos a campo e inseminação artificial.
Na
seqüência estratégica do uso de tecnologias na pecuária
de corte dedicada à cria ou ciclo completo, o uso do cruzamento
industrial deve vir amparado por técnicas de mineralização,
nutrição e oferta efetiva de pastagens, garantindo assim
a expressão da qualidade genética do rebanho.
Com
o concurso de tecnologia bem planejada caso a caso, é possível
que no abate médio nacional se reduza a oferta de carcaças
leves e mal acabadas, como ocorre muitas vezes. O peso médio
de abate no Brasil está ao redor de 16 arrobas para machos e
de 11 arrobas para fêmeas, enquanto nos Estados Unidos, por exemplo,
às médias são próximas a 18 a 20 e 15 a
16 arrobas, respectivamente para machos e fêmeas.
A
elevação do peso médio/cabeça para o abate
e da qualidade da carcaça pode aumentar significativamente a
produção sem aumentar o numero de cabeças abatidas
ou o desfrute do rebanho. Essa elevação do peso por animal
abatido é importante também para viabilizar o aumento
da eficiência das plantas frigoríficas, melhorando a competitividade
da carne brasileira com vista à conquista de mercados mais exigentes
e dando base concreta para a classificação de carcaça
no país.
O
aumento de produção por cabeça sem elevação
no tempo de produção, portanto dos custos, de um boi ou
uma novilha gorda, torna imprescindível o uso do cruzamento industrial,
devido à rapidez na engorda e na terminação. Outro
aspecto importante a favor de sua utilização é
a melhora da qualidade da carne, fator que a maioria dos mercados importadores
mais exigentes impõe desde já como determinante e que,
em breve, será fator significativo na diferenciação
de preço do produto também no mercado interno.
Ainda
com relação à melhora na qualidade da carne, deverá
crescer o numero de bois terminados em confinamento. O processo será
utilizado tanto para terminação quanto para viabilizar
as estratégias de maximização do uso das pastagens
no verão, com o objetivo final de produzir uma carne natural
e, ao mesmo tempo, macia e mais saborosa.
Por
sua vez, as pastagens, mediante o uso de técnicas de manejo e
adubação, deverão também ser utilizadas
por animais mais eficientes, que convertam melhor o alimento consumido.
Em outras palavras, todas as técnicas já disponíveis
de aumento da produção e da qualidade da carne bovina
no Brasil, incluindo o cruzamento industrial, agora mais simplificado
com a chegada das raças taurinas adaptadas, como a bonsmara e
a senepol, viabilizam esse tipo cruzamento a campo. E propicia boa oportunidade
de uso das fêmeas F1 na produção de matrizes pelo
cruzamento absorvente.
Todas
as técnicas mais modernas de produção, associadas
e ajustadas caso a caso, mediante um planejamento de qualidade, podem
elevar a renda liquida ou o lucro bruto por ha da pecuária. Quando
uma das chaves do planejamento é a superação da
queda abrupta da produtividade no inverno, o acréscimo do custo
de produção na maioria das vezes gera aumento no faturamento
significativamente maior pelo aumento da produtividade total da fazenda
e da qualidade da carcaça produzida, remunerada pelo elevado
rendimento de carcaça. De acordo com projeções
da FNP essas mudanças no perfil produtivo poderão elevar
o preço do boi e da terra, conforme mostra o quadro seguinte.
VALORIZAÇÃO
DO BOI GORDO
*
2002 US$ 17/@ EM SP
* 2012 US$ 27/@ EM SP
(Fonte:
FNP Consultoria)
VALORIZAÇÃO DA TERRA
* 2002 50 A 60 sc de soja / ha
* 2012 130 A 160 sc de soja / ha
Tais
acréscimos de preços e a elevação da produtividade
poderão promover um crescimento significativo da rentabilidade
da pecuária, elevando a renda liquida anual por ha para as seguintes
faixas projetadas:
ANO |
LUCRO R$/ha |
|
Pecuária extensiva |
Pecuária intensiva |
Pecuária e grãos |
2003 |
120,00 – 170,00 * |
350,00 – 850,00 * |
700,00 – 1.000,00 * |
2012 |
200,00 – 340,00 ** |
420,00 – 1.020,00 ** |
840,00 – 1.200,00 ** |
(Fonte:
Plano Consultoria)
* Lucros brutos em reais registrados para o ano de 2003 em fazendas
do Sudeste e Centro-Oeste.
** Projeções baseadas na variação esperada
para a arroba nos próximos dez anos para preços correntes
do ano de 2.004.
Para
finalizar, assinale-se que o uso de tecnologias modernas de produção
deverá viabilizar o aumento da oferta de animais de cruzamento
industrial, provavelmente uma exigência para quem pretende permanecer
na pecuária de maneira lucrativa, competindo com outras atividades
agrícolas. Será também uma exigência dos
mercados externos, que premiam efetivamente a qualidade, por meio dos
preços pagos pela tonelada de carne.
Mario
Celso Fernandes Lacôrte
Ari José Fernandes Lacôrte
Engenheiros agrônomos, Mestres em Agronomia